sábado, 19 de setembro de 2009

Música - Alento



Violão esquecido num canto é silêncio
Coração encolhido no peito é desprezo
Solidão hospedada no leito é ausência
A paixão refletida num pranto, ai, é tristeza
Um olhar espiando o vazio é lembrança
Um desejo trazido no vento é saudade
Um desvio na curva do tempo é distância
E um poeta que acaba vadio, ai, é destino

A vida da gente é mistério
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho
O alento de tudo é canção
O fio do enredo é mentira
A história do mundo é brinquedo
O verso do samba é conselho
E tudo o que eu disse é ilusão

Cantada por Paulinho da Viola e a letra é do incrível Paulo César Pinheiro, esse cara é gênio demais.

sábado, 29 de agosto de 2009

Monarco I

"Quando cheguei em Nova Iguaçu, pequeno ainda comecei a me enturmar, fugir um pouquinho de casa e conhecer os amiguinhos. Foi quando um camarada tava lendo uma revistinha pequena... Gibi, era um gibi, Super-Homem, que tinha uns negócios... e proferiu essas palavras: "... não sei o quê não sei o quê o monarco não sei o quê...", aí eu comecei a rir. Achei gozado! Garoto bobo, eu tinha 5 ou 6 anos. Aí ele: "Tá rindo por quê, seu monarco?" Aquilo bateu, ficou como um visgo ali agarrado. Todo mundo vinha, os garotos: "Monarco!", nas minhas costas me batendo, aí pegou..."

Hidelmar Diniz, ou melhor, Monarco é sambista da velha guarda da Portela, compositor e intérprete. É uma figura da Portela e junto com o Paulinho da viola, Tia Surica, Casquinha, Carlos Cachaça, entoa sambas históricos como no video abaixo:

A música se chama "Alvorada" do querido Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio de Carvalho.

domingo, 23 de agosto de 2009

Carlos Barbosa-Lima I



No vídeo, Barbosa-Lima toca seu arranjo para "Sons de carrilhões" do grande João Pernambuco.

Nascido em 1944, São Paulo capital, Carlos se interessou por música e por violão desde pequeno, seu pai que tinha tentado aprender, mas sem sucesso, o colocou no lugar pra ter aulas. Depois de dois anos de muito progresso conheceu o violonista Luiz Bonfá que o encaminhou para as aulas com o mestre Isaias Sávio.

Carlos tinha o hábito de roer as unhas e Luiz Bonfá havia aconselhado deixar crescer. Vem então a grande solução: colocar pimenta malagueta nelas. Tiro e queda. Bonfá também o preparou ensinando alguns fundamentos da técnica mais tradicional, com o objetivo de se poder tirar mais som do violão - as unhas mais compridas, tirar o som com a unha e a polpa do dedo, dicas para que ele pudesse aproveitar com mais intensidade as aulas.

Hoje, Carlos mescla todo seu conhecimento teórico e de violão erudito com um repertório bastante brasileiro e popular, seus arranjos são muito bem elaborados e são de encher os ouvidos, no vídeo abaixo segue "Cochichando" de Alfredo Vianna, vulgo Pixinguinha.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Naudo II

Hoje em dia Naudo reveza entre bares, restaurantes e hotéis na Espanha e até na Itália, houve uma época que o site youtube deletou todos os seus videos alegando quebra de direitos, mas os fãs, que não são poucos, ja voltaram a postar e criaram até um blog: www.naudostar.blogspot.com/

No video, seu arranjo de "Stand by me" do bom e velho Ben E. King

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Baden Powell III

Baden veio de uma família envolvida com música, seu pai apesar de amador, reunia amigos como Pixinguinha, João da Baiana, Donga, entre outros, pra conversar e tocar, verdadeiros saraus.

Até que um dia uma tia do velho Baden - que tinha oito anos nessa época - ganhou um violão numa rifa e como não sabia tocar, deixou-o pendurado na parede. Baden que por um tempo ficara namorando o violão, decidiu pegar e aprender por conta própria. Pronto, daí em diante teve aulas com seu pai e rapidamente foi encaminhado pro mestre Meira (que também foi professor do Raphael Rabello e do Maurício Carrilho).



Baden fez um arranjo para "Samba de uma nota só" composto por Tom Jobim, aproveitem!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Baden Powell II



No vídeo - que é um trecho do DVD "Velho Amigo" - o velho Baden fala um pouco da vida dele no violão, desde jovem e toca "Samba triste", essa música aliás merece até um outro post, é bonita demais.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Semana Baden Powell


Dia 6 esse mito do violão brasileiro completaria 72 se estivesse vivo. Ao longo da semana vou postar videos e contar um pouco da sua tragetória.

Nascido no dia 6 de agosto de 1937 numa cidade chamada "varre-e-sai" no Rio de Janeiro, recebeu o nome de Baden Powell em homenagem a Lorde Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, fundador do Escotismo (os famosos escoteiros, com aquela saudação e as práticas de vida no campo, entre outras coisas).

No video, toca e canta "Consolação" no programa da TV Cultura Ensaio (um dos melhores programas da televisão, diga-se de passagem)


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Raphael Rabello II



Sem querer apontar um preferido mas já apontando, tenho por Raphael uma admiração diferente.

Apesar de ter começado a gostar de música e de violão vendo o Yamandu Costa tocar, foi em Raphael - e com esse arranjo de anos dourados, composição de Chico Buarque e Tom Jobim - que eu defini mais ou menos meu objetivo ao começar a estudar música.

A facilidade com que ele toca sempre me impressionou muito. Seus arranjos apesar de parecerem simples abusam de uma qualidade técnica que pouquíssimos tem, o que acaba sendo uma armadilha - até divertida, devo confessar - pra quem tenta se aventurar no estudo das suas obras.

Nesse outro vídeo ele toca Odeon - composição de Ernesto Nazareth - com uns amigos e impressiona a todos com a quantidade de variações salpicadas ao longo da música, é uma aula de como tocar brincando.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Naudo I


Naudo é um músico que vive na ilha de Tenerife - Espanha e ganha a vida tocando em clubes de jazz e restaurantes. Além disso é sempre convidado por outros músicos para participar da gravação de algumas músicas.

Nasceu dia 23 de abril de 1961, natural daqui de Recife, ficou no Brasil até 1989, quando resolveu viajar pela Espanha com a orquestra "Linea Continua", participando do "Autum Jazz" de Zamora (Castilla), que estava atuando junto ao saxofonista Quique Macias.
Nunca estudou música em um conservatório ou faculdade, é autodidata e desenvolveu sua tecnica observando e tocando com outros músicos e estudando vários estilos musicais diferentes.

O video é um arranjo dele para "Sultans of swing" da banda Dire Straits.



quarta-feira, 15 de julho de 2009

Paulinho Nogueira I


Paulinho Nogueira nasceu em Campinas dia 8 de outubro de 1929 e faleceu em Sampa dia 2 de agosto de 2003. Paulinho tentou a vida na cidade grande como cartunista (e tinha até talento) mas não conseguiu e sem querer voltar pra Campinas ficou por São Paulo tocando violão nas noites.

Depois disso seguiu carreira de violonista solo, arranjando músicas e até cantando, mas essencialmente era instrumentista, como ele mesmo diz em uma entrevista.

Tocava sem as unhas, o que trás um toque muito mais sutil e doce, é fácil de reconhecer quando é Paulinho tocando. Sua qualidade como arranjador também é indiscutível, além de ser de uma humildade fora do comum. Segue o video "Samba em prelúdio" de Baden Powell e Vinicius de Morais.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Raphael Rabello I


Nunca vi ninguém tocar feito ele. Rafael (depois ele adotou a grafia com "ph") Baptista Rabello nascido em 31 de outubro de 1962 morreu em 27 de abril de 1995. Nunca vi tocarem igual.

De uma família musical, o avô já tocava piano para ele e as irmãs cantarem desde pequenos, Raphael se interessou pelo violão e chegou a ter aulas com Meyra (foi professor de Baden Powell também) e daí descambou a genialidade. Sofreu influência por todos os lados: o chorinho com Dino 7 cordas - que inventou o violão de 7 cordas -, o flamenco com Paco de Lucía e o erudito com Heitor Villa-lobos e Radamés Gnattali com quem fez parceria.

Em suma, Raphael conseguiu reunir características que quando se juntaram a sua personalidade fizeram dele um músico completo: com uma harmonia fora do comum, agilidade e técnica impressionantes, uma mão direita impecável e uma capacidade de improvisação extraordinária, ele se imortalizou como um dos maiores nomes do violão brasileiro.


O vídeo é "Sons de carrilhões" do grande João Pernambuco:

Cartola II



"Corra e olhe o céu" é a última música que Cartola canta no filme "Cartola - Música para os olhos". Acabei de assistir e bateu a saudade, mesmo ele tendo morrido há 29 anos. O filme conta algumas coisas da vida dele, mostra as composições e muito bate-papo sobre o samba, a Mangueira e a vida dele. É praticamente a mesma linha do filme feito sobre Paulinho da Viola, o que só garante ser muito gostoso de assistir.

Tem certas coisas que são difíceis de acreditar. Cartola, ou melhor, Agenor (que depois passou a ser Angenor porque erraram o nome dele na papelada do casório com Zica) não gostava de ir pra escola e o pai resolveu dar aula a ele em casa mesmo. Idéia que não deu muito certo também, porque era um olho no caderno e o outro no violão, e nessa divisão entre ler e aprender a tocar o muleque acabou largando o estudo e, mesmo analfabeto, escreveu essas maravilhas que só escutando mesmo pra ter uma noção da grandeza desse gênio. Abaixo, "Tive sim" no programa da TV Cultura Ensaio.


sábado, 4 de julho de 2009

Cartola I


Cartola é o cara. Fez de tudo na vida, até fundar uma escola de samba fundou, a Estação Primeira de Mangueira, tem uns sambas lindos de matar e as histórias de cada letra são coisas fora do comum.

Particularmente eu acho Cartola uma das cabeças do samba, hoje em dia Paulinho da Viola desempenha esse papel de representante, mas antes dele o velho verde-rosa é o primeiro que me salta como referência.
A história de hoje fica por conta de "O mundo é um moinho":



Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida

Já anuncias a hora da partida

Sem saber mesmo o rumo que irás tomar


Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida

Em cada esquina cai um pouco a tua vida

Em pouco tempo não serás mais o que és


Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos

Vai reduzir as ilusões à pó.


Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés


Cartola escreveu isso pra filha depois que descobriu que ela havia se tornado prostituta, acho que não tem necessidade de destacar a letra depois de saber desse fato não é? imagine hoje como seria essa letra se a mesma história acontecesse...

Abraços

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Video - Frevo



Yamandu Costa (tocando num violão de 10 cordas) e Armandinho num bandolim elétrico (guitarra baiana), aliás, esse cara reinventou o jeito de solar e mostrou a quantidade de recursos que existem nos instrumentos que antes tinham mais uma função de acompanhar como é o caso do cavaco, bandolim etc.

domingo, 28 de junho de 2009

Samba I


Acho que falar de samba é gostoso demais. O rítmo, as letras, o ambiente, as pessoas são especiais. A batida característica da percussão, as rodas de samba, encontro de amigos, a cerveja, os passos da dança, tudo isso aponta pra um conjunto que faz com que o samba seja um rítmo popular mas que conseguiu atingir a todos que apreciam a boa música. Exemplos de sambistas não faltam: Paulinho da Viola, Carlos Cachaça, Zé Keti, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho e tantos, tantos, tantos outros que a falta de conhecimento e a memória não deixam continuar a lista.

Não me interessa muito falar da origem, que veio com os negros na época da escravidão, se manifestou na Bahia e em outros estados mas foi no Rio que teve sua maior projeção, enfim, isso (teoricamente) é estudado nas aulas de história do Brasil. O bom mesmo é falar sobre a música, os personagens, essa conversa toda que o Sarau proporciona.
Esse cantando "O mundo é um moinho" é o Cartola, um dos maiores nomes do Samba, dono de centenas de sambas e fundador da G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira. Falei assim mesmo, sem muita cerimônia porque ele já tem lugar cativo aqui no blog. Chico (que dispensa apresentações) cantando "Conversa de botequim" do grande Noel Rosa. Conversando com um pai de um amigo ele me contou que essa música chegou a ser premiada por sua harmonia, o Noel era gênio demais.

Claro que falei pouco pro tamanho do samba, mas é por isso que coloquei os números romanos nos títulos, sempre que der aquela saudadezinha posto mais contando outras coisas!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Divulgação da BGM número 8!


"A Brazilian Guitar Magazine (BGM) é uma revista eletrônica gratuita, em formato PDF, que aborda o rico universo do violão, especialmente o violão brasileiro.

Publicada pelo fórum BrazilianGuitar.net, a revista possui um formato pioneiro e traz entrevistas com luthiers e violonistas consagrados, reportagens diversas, artigos de professores e partituras inéditas de alguns dos nossos melhores compositores.

A proposta editorial é publicar uma revista de filosofia "open source", ou seja, aberta a colaborações voluntárias dos leitores."

Esse é o informativo oficial, feito pelos divulgadores da revista que conta com assíduos leitores!

Para baixar a revista basta clicar aqui,
caso demore a carregar, clique com o botão direito e "salvar destino como..."!

Outro link útil é o que leva as outras edições da revista.

Abraços e boa leitura!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Paulinho da Viola I


Paulo César Batista de Faria nasceu na zona sul do Rio em 12 de novembro de 1942. Conhecido mesmo como Paulinho da Portela - já revelando sua paixão entre as escolas de samba - depois mudou seu nome para Paulinho da Viola.

Mas voltando um pouco, antes de adotar esses nomes, Paulinho nasceu e cresceu num meio, no mínimo, invejável. Filho de César Faria, que além de ser um dos fundadores do grupo Época de Ouro era violonista 7 cordas (e que violonista viu?) dava de cara com Jacob do Bandolim, Altamiro Carrilho, Pixinguinha, assim, no sofá, conversando e tocando. Até o Cartola aparecia por lá pra cantar um pouco.

Mesmo assim, com um ambiente desse, músico não foi a primeira opção de Paulinho. Arriscou bicos e se aventurava muito de carpintaria, depois chegou a trabalhar num banco mas foi rapidamente demitido por começar a chegar atrasado, já nesse tempo começava a frequentar os saraus e sambas da vida, "quando ele começou a se meter pro lado da minha cunhada, saia na sexta só aparecia na segunda..." ri seu César, pai de Paulinho, no filme "Meu tempo é hoje" que conta um pouco da vida e obra desse portelense e vascaíno.

Chega de conversa! no vídeo, um trecho do filme "Meu tempo é hoje" e a música "Ruas que sonhei". Ah, quem canta com ele é a Amélia Rabello, mas aí já é conversa pra outro post.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Estréia

"Sarau: s.m. Reunião festiva, à noite, para dançar, ouvir música e conversar. / Reunião noturna, de finalidade literária."

Depois de pensar em dezenas de palavras diferentes, sejam bem-vindos ao meu sarau!

É isso, uma conversa sobre música brasileira. Aliás, brasileira só não, internacional também, mas com um enfoque diferente do que geralmente se vê por aí.

Violão erudito e popular, samba, choro, jazz, música latina, interpretações, histórias, curiosidades e por aí vai, tudo acompanhado de videos e fotos.

Como quem vos escreve é completamente enrolado nesse mundo de blog e afins, não reparem o mau jeito na hora de escrever e postar. Vou tentar pegar o jeito rápido.

De cara, abro com um vídeo de um violonista gaúcho Yamandu Costa, tocando uma música de sua própria autoria, aos poucos vou contando a história dele e de outros músicos também, aproveitem!